Talvez você não se lembre ou nem saiba, mas em 2013 eu participei de uma campanha publicitária na qual eu e mais 5 pessoas (Ricardo Freire e Ailin Aleixo entre elas, me enchendo de orgulho por estar naquele grupo) viajamos para lugares diferentes do Brasil, fotografando e escrevendo sobre nossas experiências.
Os textos e as fotos de cada um foram publicados num site especial criado para a campanha e que naturalmente saiu do ar depois que toda a função terminou.
Eu sempre tive vontade de escrever algo sobre aquela aventura maravilhosa no meu blog, mas nunca fiz por preguiça, falta de tempo, prioridade para outros assuntos e aquela coisa toda.
Porém, há alguns meses, percebi que a viagem estava prestes a completar dois anos e achei que era hora de tomar jeito e colocar algo neste espaço. Então resolvi comemorar esse aniversário republicando os textos que escrevi na época (com pequenas adaptações), para me lembrar daquela experiência incrível e dividir com você o que vivi e aprendi.
E qual foi a viagem que eu fiz?
Como você já viu ali no título deste post, foi a travessia entre Belém e Manaus num barco regional.
Uma jornada linda, inesquecível e extremamente recompensadora. E também uma ótima alternativa para quem quiser ficar longe do nosso dólar pornográfico.
O formato da publicação original era estilo “diário”, por isso esta republicação começa hoje e continua ao longo dos próximos 6 dias, com os textos indo ao ar exatamente nas datas em que aconteceram em 2013. No final, ainda republicarei um texto geral, com algumas dicas para quem quiser repetir a dose.
Importante: a empresa patrocinadora da viagem em 2013 não tem absolutamente nenhuma influência sobre esta republicação. Ela acontece por exclusiva vontade minha, de forma espontânea, sem qualquer contrapartida financeira.
Espero que você goste desta minha comemoração de aniversário de uma das experiências mais fantásticas que tive nessa vida.
E chega de blablablá. Vamos ao primeiro dia da travessia.
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EMBARQUE PROMISSOR
9 de outubro de 2013
Eu não precisei de muito para querer fazer a viagem de barco entre Belém e Manaus.
Logo no primeiro relato que li sobre ela, há alguns anos, me apaixonei por algo que o autor destacou enlouquecidamente no seu texto: a ótima oportunidade que a travessia oferece para quem gosta de conhecer pessoas, culturas e histórias diferentes.
Como sou fascinado por tudo isso, a hidrovia Solimões-Amazonas – por onde passam as embarcações que fazem o trajeto – imediatamente brilhou no meu mapa.
A julgar pelo que vivi neste primeiro dia no barco, aquele viajante estava maravilhosamente correto: em questão de poucas horas, fiz 4 novos amigos de viagem e conheci 4 histórias.
O primeiro novo amigo apareceu ainda na fila de embarque. O esloveno David deveria ter entrado num barco que saiu há 5 dias, mas seu ônibus de Jericoacoara (CE) para Belém atrasou 6 horas – exatamente o tempo de segurança que ele havia deixado para chegar com calma no porto da capital paraense. Foi obrigado a ficar na cidade por mais tempo, esperando por uma nova saída.
O segundo amigo surgiu de repente, ao meu lado, no deck superior, de onde se tinha a melhor vista para o pôr do sol lindíssimo que iluminou o nosso embarque. Leomar estava faceiro e tinha grandes razões para isso: hoje é seu aniversário e ele está indo para Manaus para rever parte da família.
O terceiro amigo é Andrei, que tem um outro nome difícil antes deste, mas não lembro qual é. Andrei tem 17 anos e gosta de Bon Jovi. Está indo para Monte Alegre, onde vai trabalhar por dois anos em uma madeireira “ganhando 1.200 reais”. Apesar de estar indo para ficar por 2 anos, ele não considera estar de mudança para a nova cidade. Diz que mora em Belém mesmo.
O último amigo é uma amiga: dona Vitória, a camareira-chefe do Amazon Star, o barco onde estou agora. Me recebeu como se eu fosse um príncipe e já ordenou o atendente da lanchonete para me tratar bem. Ela trabalha há 10 anos no barco e prometeu me dar dicas boas sobre Alter do Chão, aonde poderei ir na nossa parada em Santarém, sua cidade.
Assim foram as minhas primeiras 4 horas nesta viagem. Ainda tenho 5 dias e 5 noites aqui, cercado pelo Rio Amazonas inteiro lá fora.
O início não poderia ter sido melhor.