Dois búfalos para cada habitante. Assim é na Ilha do Marajó, dona do maior rebanho desses animais no Brasil – são cerca de 600 mil. Localizada na foz do Rio Amazonas, no Pará, Marajó é a maior ilha fluvio-marítima do mundo. Ou seja, a maior ilha banhada por águas de rios e do mar do planeta.
Com pouco mais de 200 mil habitantes e quase o mesmo tamanho que países como Suíça e Dinamarca, visitar o Marajó é fácil. Basta pegar um voo para Belém, capital do Pará, que também tem seus encantos. Depois de uns dias na cidade, pegue uma lancha para o Marajó. Duas horas navegando por rios amazônicos e você chegará num lugar incrível, que já foi descoberto por estrangeiros, mas que ainda não entrou no mapa turístico do brasileiro. Pelo menos não do jeito que merece.
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A capital turística da ilha é Soure. Desembarquei na hora do almoço, quanto o comércio fecha e as ruas ficam vazias. Se não vi muitas pessoas, pelo menos dei de cara com alguns búfalos. Não faltam versões para explicar como os búfalos, originários da Ásia, chegaram à Amazônia. A mais conhecida delas garante que tudo começou no fim do século 19, quando um navio que vinha da Índia e seguia para a Guiana naufragou perto do Marajó.
Alguns animais sobreviveram, nadaram até a Ilha, se adaptaram ao clima local e resolveram ficar por lá mesmo, de boa na Amazônia. Ao perceber a utilidade dos bichos, fazendeiros resolveram importar mais búfalos. Hoje, eles estão presentes em várias fazendas da região e fornecem dois dos pilares da culinária marajoara: a carne e o queijo do Marajó. O último é vendido em toda a cidade, inclusive no porto, na hora que os turistas se preparam para ir embora. Um conselho: leve uma boa quantidade com você. Vale a pena.
O filé marajoara é justamente a junção da carne com o queijo de búfala. O prato típico do Marajó pode ser encontrado em qualquer restaurante de Soure. Mas a presença dos búfalos na vida da ilha vai muito além da alimentação e dos campos das grandes fazendas. Eles estão nas ruas, nas casas das pessoas e até no serviço público.
No Marajó, a Polícia não monta em cavalos, mas em búfalos. E usa os animais para patrulhar as cidades e até, acredite se quiser, perseguir suspeitos. Numa reportagem da Folha de São Paulo, um policial comentou: “O fato de ser um sujeito montado num búfalo me torna mais abordável, facilitando um pouco meu trabalho”. Na época da reportagem, o 8° Batalhão Policial, em Soure, contava com 10 búfalos. A delegacia tinha até um curral anexo.
Eu bem que queria dar de cara com polícias e seus búfalos, mas não testemunhei a cena. Por outro lado, a coleta de lixo também é feita com o auxílio dos bichos, que são usados como montaria pela população local.
Mas o Marajó é muito mais que búfalos, claro. Praias lindas, fluviais e marítimas, manguezais, e passeios pelas fazendas da região são outros dos programas básicos da ilha, que já serviu de cenário para gravações de novelas, filmes e até de um reality show de aventura, anos atrás.
Com três dias é possível conhecer as atrações de Soure e da cidade vizinha, Salvaterra. Mas não é problema ficar mais, passeando calmamente pelas ruas de Marajó, bem à moda dos búfalos.
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