Depois de Tyrion Lannister ser jogado numa das celas do céu no Ninho da Águia, ele olha a sua volta e descobre o porquê do nome peculiar da prisão. A sua frente, não há nenhuma barreira entre ele e a paisagem de tirar o fôlego das montanhas. Acontece que o cenário digitalmente adicionado para causar medo em qualquer um, existe na vida real. Nem todo fã de Game of Thrones sabe, mas o Vale de Arryn foi inspirado no cenário impressionante do norte da Grécia: Meteora.
Enquanto eu seguia as 5 horas de trem que separam Atenas dessa região de montanhas e mosteiros, fiquei observando a paisagem mudar na minha janela. Quando as primeiras montanhas, meio isoladas na planície, começaram a aparecer já fiquei emocionada. Meteora faz isso com você o tempo inteiro. Te dá aquela sensação de que você aterrissou no cenário de fantasia.
As pedras estão lá há milhões de anos. Foram formadas com acúmulo de detritos de um antigo lago e movimentos tectónicos que as elevaram. A pedra mais alta tem 549 metros. O mais estranho é que não existe na mitologia grega nenhuma referência sobre a formação de Meteora ou sua relação com os deuses do Olimpo. Desde sempre, foi um lugar que nasceu para ser isolado.
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Foi esse isolamento que levou para lá os primeiros ermitões, mais ou menos no século 9. A verdade é que existem registros de pessoas habitando as cavernas há mais de 20 mil anos. Mas, voltando aos ermitões, o pessoal que não queria mais ter nenhum contato com a sociedade escalava as montanhas, fazia sua residência em cavernas nas pedras e passava ali o resto de suas vidas. Com o tempo, a comunidade de ermitões cresceu a ponto deles passarem a se reunir aos domingos para rezar juntos. Foi assim que acabou surgindo o primeiro mosteiro no topo de um das montanhas, lá para o século 11.
Foi só no século 14, para fugir dos ataques dos turcos que invadiram a Grécia, que surgiram as comunidades monásticas em Meteora. Em três séculos, 24 mosteiros já tinham sido construídos no topo das pedras. Aquele era o centro mais importante da religião ortodoxa na época. Até hoje conserva essa importância, só perdendo para Mt. Athos. O difícil acesso era sua proteção: para subir até lá, nada de escadas, só cordas. No melhor esquema Rapunzel, só podia subir quando os monges jogavam as tranças.
E assim eles sobreviveram por muitos anos, com doações da comunidade a volta e isolados do resto do mundo. Mas isso não durou para sempre. Lá para meados do século 18, muitos desses monastérios foram deixando de existir, tanto porque os monges foram morrendo, quanto porque não havia mais a mesma quantidade de pessoas interessadas em seguir aquela vida.
Reza a lenda, segundo contou meu guia do Visit Meteora, que a primeira vez que as mulheres da comunidade de Kalambaka puderam entrar num dos monastérios foi durante um grande incêndio no Grande Mosteiro. Os monges sinalizaram o fogo e as mulheres foram as primeiras a ver e correram para acudir, com baldes d’água e outros equipamentos de salvamento. Quando elas chegaram à porta do monastério, os monges ficaram num impasse: ou quebravam sua regra centenária de não deixar mulheres entrarem, ou perdiam tudo queimado. Felizmente, optaram pela primeira.
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Depois, em 1921, a Rainha Maria da Romênia foi a primeira mulher autorizada a visitar os monastérios. Hoje em dia, eles pararam com essas bobagens e as visitas são abertas a todos. Além disso, dos seis mosteiros que sobrevivem hoje em Meteroa, dois deles são administrados por freiras: é que mais uma vez os monges perceberam que havia mulheres dispostas a salvar sua ordem religiosa.
O problema hoje nos mosteiros de Meteora é que eles são turísticos demais. Dos seis, visitei quatro, mas só gostei de um. Não porque não sejam lindos por dentro, mas porque era tanta gente que se perdeu toda a lógica do silêncio, paz e reflexão que os levaram a serem construídos em primeiro lugar. Esse que gostei de visitar, St. Nicholas, é bem menor e eu fui no final do dia, quando já não havia quase nenhum visitante. Então, minha sugestão é que você tente planejar sua visita para o bem no início ou o final do dia, quando haverá menos gente.
É possível visitar os mosteiros de Meteora por conta própria, a pé ou de carro alugado. Também existem diversos tours que você pode comprar em Kalambaka. Eu fiz dois desses com o pessoal do Visit Meteora, a convite deles: o Sunset Tour, que gostei muito, porque é feito num horário com bem menos turistas e a vista é simplesmente perfeita no horário. Também fiz um tour de meio dia pelos Monastérios e gostei um pouco menos, porque há menos liberdade para conhecer e é um horário muito lotado.
Todos os Mosteiros de Meteroa, Grécia
Mosteiro de Great Meteoron
É o maior e mais antigo de todos eles, construído no século 14, o nome é semelhante ao das montanhas, que significa “suspenso no ar”. Ele foi fundado por um homem que hoje é santo e é considerado o grande fundador da comunidade monástica em Meteora, Santo Athanasios. Uma grande área foi transformada em zona de visitação, com salas de exposição dos antigos hábitos dos monges e uma igreja ortodoxa com afrescos bem bonitos.
Aberto de 9h às 17h.
Fecha nas Terças.
Mosteiro de Holy Trinity
Esse é um dos mosteiros mais difíceis de alcançar e também é conhecido porque apareceu em um dos filmes do James Bond. Por conta da dificuldade para entrar, é menos cheio de turistas.
Aberto de 9h às 17h.
Fecha nas Quintas.
Varlaam
Eu considerei Varlaam o mais bonito dos mosteiros. Também é o segundo maior do complexo, construído em 1541-42. Um lugar bem interessante para visitar lá dentro é um gigantesco barril de carvalho para armazenar água, do século 16.
Aberto de 9h às 16h.
Fecha nas Sextas.
Roussanou/ St. Barbara
Esse mosteiro é na realidade um convento, uma vez que é administrado por freiras desde 1988. Foi fundado no século 16 e é bem pequeno. Para ser sincera, é mais bonito de fora do que de dentro, não vale muito a pena entrar.
Aberto de 9h às 17h45.
Fecha nas Quartas
St. Nicholas
Esse mosteiro é bem pequenino, mas com uma vista maravilhosa a sua volta e uma das igrejinhas ortodoxas mais bonitas dentre os seis. Esse é o primeiro mosteiro no caminho partindo da vila de Kastraki. Como é menor e um pouco mais afastado dos outros, é bem menos cheio que os demais.
Aberto de 9h às 15h30
Fecha nas Sextas
St. Stephen
Esse é um dos mosteiros mais fáceis de entrar, porque basta cruzar uma ponte e foi construído numa área plana ao invés de um penhasco. St. Stephen também é administrado por freiras. Durante a Segunda Guerra Mundial foi bombardeado pelo exército alemão, que acreditava que o local estava abrigando inimigos.
Abre de 9h30 às 13h30 – 15h30 às 17h30
Fecha nas Segundas
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