Voltamos de Machu Picchu no início da tarde. Como o trem para Ollantaytambo só sairia às 19h (Inca Rail), resolvemos andar pelo vilarejo de Águas Calientes, onde almoçamos e depois fomos visitar a feira de artesanatos que fica próxima à estação. O trem partiu pontualmente e assim que chegamos em Ollantaytambo às 20h30, já tinha um micro-ônibus nos esperando para prosseguirmos até Cusco. Chegamos em Cusco super cansadas, por volta das 23h, o que nos fez ir direto para o hostel tomar banho e dormir (continuamos hospedadas no Pirwa Hostel Colonial).
No outro dia compramos as passagens para Copacabana, cidade da Bolívia, pela empresa Huayrur Tours ($ 55 soles). Seria nosso penúltimo destino antes de retornar para o Brasil. Copacabana é a principal cidade tida como base para fazer os passeios ao Lago Titicaca, que recebe o título de lago navegável mais alto do mundo. O ônibus parte de Cusco à noite (22h30), viaja a madrugada inteira, fazendo uma parada em Puno e chegando pela manhã. Em Copacana não há rodoviária, o ponto final do ônibus fica na rua, a poucas quadras da orla do lago.
Nós desembarcamos, ficamos meio desnorteadas, mas logo encontramos um hotel disponível e super arrumadinho de frente para o lago (Hotel El Mirador – 50 bolivianos por pessoa para três noites). Fizemos o check-in e fomos dar uma volta para almoçar o famoso prato típico da região, a truta.
O passeio mais famoso de Copacabana é o da Isla del Sol. Na orla do lago há um monte de empresas que oferecem o serviço e os valores são muito parecidos. Optamos por fazer o passeio no dia seguinte para o Norte e Sul da ilha com a empresa Andes Amazonia (pagamos 35 bolivianos por pessoa). Tinha chovido muito na noite anterior e o dia amanheceu, digamos “tempestuoso”. Mesmo assim fomos para o cais, na dúvida se fariam ou não o passeio. Tivemos que esperar algumas horas até que a marinha liberasse a navegação.
Foi o dia mais tenso de todo o mochilão. Pegamos um barco todo remendado e as ondas do lago eram tão imensas e agitadas que de tempos em tempos era preciso olhar o nível da água que entrava pelo casco. Em certo momento da travessia, uma dessas ondas gigantescas quebrou dentro do barco, quebrando o vidro e machucando algumas pessoas. Foi o auge do pânico de toda a tripulação, já que havia entrado muita água e estávamos completamente desprotegidos. Além disso, o barco navegava no meio do lago, a vários quilômetros da costa e sem conseguir se aproximar.
O piloto do barco resolveu seguir viagem, mas a tensão era nítida. Nessa hora, a maioria dos turistas já estava chorando e vomitando, inclusive duas das nossas amigas. Acho que a travessia dura cerca de duas horas, mas sob o medo intenso e as péssimas condições de navegação, certamente para gente deve ter durado umas três horas ou mais. Foi desesperador. Depois de muito estresse, finalmente chegamos na parte norte da ilha. Ficamos um momento nos recuperando, e depois um morador local se ofereceu para guiar o grupo (óbvio que cobrou da gente depois – $ 10 bolivianos).
Para entrar na ilha é necessário pagar uma taxa de visitação de $ 10 bolivianos e o passeio é muito interessante. Apenas eu e Jo fizemos a caminhada que cruza boa parte da ilha passando pela Roca Sagrada, Mesa de Sacrifício e o Laberinto (Chincana). As meninas estavam passando mal (outras duas não fizeram o passeio) e resolveram ficar no cais do porto. A paisagem vista do alto é estonteante. O local é repleto de histórias e ruínas e é tido como um lugar sagrado dos Incas.
Valeu a pena, com certeza. Foi mágico e a energia do lugar é incrível, assim como todos os outros lugares sagrados pelos quais passamos. Depois do passeio, o barco retornou para Copacabana no final da tarde (devido ao atraso de saída não foi possível caminhar até a parte sul). Na volta, o lago estava bem menos agitado, de modo que nem sentimos muito o barco balançar. Logo já estávamos em terra, sãs, salvas e muito felizes.
É interessante dizer (e só ficamos sabendo quando chegamos em Copacabana), que os tradicionais passeios nas ilhas flutuantes e nos barquinhos de tora-tora só são feitos em Puno, o lado peruano do lago Titicaca. Ficamos desapontadas, mas serviu de estímulo para retornarmos algum dia.
La Paz
Ficamos sabendo durante a viagem que La Paz é uma cidade grande e muito violenta. Lemos muito a respeito e vários dos relatos eram negativos. Como ainda restavam alguns dias até irmos para Santa Cruz, de onde partiria o voo para o Brasil, preferimos ficar mais dias em Copacabana, que é mais tranquila do que em La Paz. Ficamos três dias e meio no total. Tiramos para descansar já que, além do passeio às ilhas, não há muita coisa a se fazer por lá.
Pegamos o ônibus para La Paz no início da tarde (Vicuña Tours, $ 25 bolivianos + $ 2 bolivianos para atravessar na balsa). Por lá ficamos apenas dois dias (Loki Hostel – $ 60 bolivianos a diária), o suficiente para andar no centro e nas feirinhas recomendadas, como o Mercado das Bruxas. Como já estávamos no limiar do cansaço e já sem dinheiro, não fizemos os passeios tradicionais como o Dowhill, Vale de la Luna e o Chacaltaya.
No dia seguinte, pegamos o ônibus para Santa Cruz. A grande surpresa foi saber que várias das estradas estavam bloqueadas por manifestantes contra ações do governo. E o ônibus que sairia na hora do almoço, só saiu no início da noite. Assim, nossa viagem atrasou por mais de 6 horas, o que resultou na perda do voo em Santa Cruz, sendo o único transtorno de toda a viagem, já que tivemos que comprar outra passagem para o dia seguinte (num valor absurdo) e dormir no aeroporto. Mas no fim deu tudo certo e conseguimos embarcar. Cada uma num horário e para destinos diferentes, foi assim a nossa despedida.
E, desse modo, se encerrou nosso Mochilão pela América do Sul. Graças a Deus nossa experiência foi a melhor possível. Estivemos sempre muito bem protegidas e não tivemos nenhuma experiência negativa para contar. Ao contrário, essa viagem mudou completamente nossa percepção da vida e eu voltei de lá profundamente deslumbrada. Espero grandemente que todos se sintam motivados a fazer essa viagem um dia. Ela é realmente maravilhosa do início ao fim.
Espero também que tenham gostado dos relatos. Até a próxima!
Informações adicionais
Esse post faz parte da série “Mochilão pela América do Sul: Bolívia, Chile e Peru“. Não deixe de conferir todos os outros posts publicados:
– Mochilão de 25 dias pela América do Sul: Bolívia, Chile e Peru
– O primeiro dia no Salar de Uyuni
– O terceiro dia no Salar de Uyuni
– Arequipa